Tuesday, February 13, 2007

Entendemos que so existem dois lugares onde não devemos estar: o Ontem e o AmAnHã

Meus queridos filhotinhos,
Como vao vocês? Como foi a semana? Espero que vocês tenham se lembrado da tarefa de agradecer pelo clima ameno e agradável que temos ai no Brasil.
Aqui, para surpresa de todos, as temperaturas estão consideravelmente altas para esta época do ano. Faltam apenas sete dias para o inicio do inverno e so nevou aqui em Toronto durante dois dias, na ultima semana de novembro. Todos aqui estão se lembrando de que no ano passado, a essa mesma época, já haviam se acumulado nas calcadas cerca de 10 centimetros de neve. Este ano alem de não estar nevando as temperaturas estão bastante altas para um final de outono em Toronto. Hoje, por exemplo, estamos com oito graus positivos. Esta tão agradável que fui tomar o meu lanche nos bancos do lado de fora da biblioteca onde estou trabalhando na pesquisa. Não da para ficar muito tempo do lado de fora, mas, por uns 15 minutos, fica ate gostoso. Hoje, pela manha, fiquei em casa para ler um texto bem concentrada e, da sacada do apartamento, pude apreciar um lindo dia de sol. Todo mundo fica mais alegre e parece que as pessoas ficam menos frias. Pensei isso, e o mais interessante e que no radio aqui, durante o noticiário, um especialista em questões climáticas falou a mesma coisa. Essa semana toda tivemos altas temperaturas que chegaram ate a 10 graus positivos. Mesmo assim a gente tem que usar muita roupa e não pode dispensar os casacos de inverno por causa do vento.
Em temos climáticos, estou me sentindo cada vez mais adaptada. Estou ate começando a curtir Toronto. Parece que o meu lado canadense esta desabrochando. Tenho descoberto que temos um pedaço de cada pais dentro da gente. Assim, quando a gente viaja ou precisa passar um tempo fora e so a gente procurar la no fundo do coração a parte que pertence ao pais onde a gente esta e ai e so conversar com ela e permitir que ela se expanda. Quando a gente se da conta, percebe que já não sente tanto frio, que as pessoas são atenciosas e boas em qualquer pais do mundo e que, mesmo apesar do jeito mais sisudo, eles são apenas seres humanos como todos nos, que se sentem inseguros, se apaixonam, sentem medo, sentem solidão, gostam e desgostam das coisas. Somos todos seres humanos. E so a embalagem e que muda. E aqui em Toronto nem isso muda tanto! Aqui tem gente do mundo todo. Quando a gente sai nas ruas, ouve muitas línguas diferentes. Tem gente de toda cor, de todo jeito, de todas as religiões, com os mais variados estilos de roupa. Aqui e a terra de ninguém e de todo mundo ao mesmo tempo!
Essa abertura interna, essa disponibilidade faz que com a gente comece a fazer amizades. O Julio e muito legal. E um irmão mais novo, muito esperto, que ajuda a gente porque percebe tudo com muita rapidez. Contudo, Mamãe não pode ficar restrita a ele, e `a Mary. Quando a Kalina foi embora no inicio de dezembro, ela ficou muito preocupada comigo, porque, de certa forma, como ela estabelece relações mais rapidamente, eu pegava “carona” nos conhecimentos dela que sempre trazia mais gente consigo. Para temperar ainda mais a situação, o outro brasileiro – o Ricardo – foi passar o Natal no Brasil. Ele e muito brincalhão e ai as pessoas se aproximam por causa das palhaçadas dele e como eu estava “de carona”, acabava aproveitando. Entretanto, o fato de eles terem saído de uma vez, despertou em Mamãe uma atitude mais proativa, de estabelecer os próprios contatos, buscar soluções, criar e ampliar redes de conhecimentos.
Olhem so como a Mamãe esta ficando esperta: no domingo fui ao cinema com a Mary (boliviana) e ela levou uma amiga dela, a Asha, que e indiana, para eu conhecer. Ai a dona me “adotou” e os indianos grudam que e uma coisa! Como ela mora pertinho la de casa, vai la `a noite so para conversar, porque eu comentei que ficava na universidade ate tarde para não ficar sozinha em casa. Na segunda, minha colega Lynne (da Bulgária) foi comigo ao shopping para comprarmos luvas de couro, ai ficamos conversando um pouco e decidimos que vamos nos encontrar entre os dias 23 de dezembro e 2 de janeiro – feriados de Natal e Ano Novo, em que a Universidade fica fechada – para fazer algum passeio turístico pelas redondezas. Na terca-feira, encontrei com o Len para gravarmos um DVD do meu vídeo que ficou muito lindo e vai ser publicado no site da Utoronto; ai ficamos conversando e combinamos de fazer uma visita de Natal ao Derrick (supervisor da minha pesquisa) la na cidade em que ele mora a 130 quilometros daqui de Toronto; como o Len tem carro fica mais facil e mais rapido. Na quarta, almocei com a minha colega Nadya (da ilha de Malta, perto da Itália) para conversarmos sobre o artigo que estamos escrevendo juntas sobre o filme Babel; alem dos assuntos de trabalho, conversamos muito e ela me contou que a fase de adaptação em Toronto foi muito difícil e que, ate hoje, `as vezes, ela fica meio triste; o lado bom da historia e que o marido dela e muito legal e facilita as coisas. Ontem (quinta-feira) o Len foi levar o DVD la em casa; tomamos cha, conversamos sobre a vida e ele, que e psicanalista, mostrou que também tem os mesmos problemas, as mesmas angustias, que não gosta de Natal, mas que a família exige a presença dele, o que o deixa aborrecido. Hoje a Cristin (minha colega alemã) já ligou convidando para nos encontrarmos `a noitinha para dar uma saída. Amanha, espero me concentrar na minha faxina la em casa, pois no domingo já tenho um almoço marcado na casa da filha da Mary que quer me conhecer. Sem falar que a Asha já ligou reclamando de eu não ter ido la casa dela ainda, pois e pertinho. Ate que enfim! Parece que meu aviãozinho esta aterrisando em Toronto, meus filhinhos!!!!!!!!!!!!!!!
Esta experiência tem me ajudado a entender aquele atributo do monastério “Não ter lar. Ter um lugar de pouso e não um domicilio.” Quando a gente vive essa realidade, a gente se percebe como cidadão do Universo, do mundo e das estrelas. Não temos pátria, mas temos um pedaço de cada pais dentro de nos. Não temos fronteiras, porque onde quer que estejamos, estamos a serviço e la e a nossa pátria. E aqueles são os nossos irmãos. Ali esta a nossa família. Entendemos que so existem dois lugares onde não devemos estar: o Ontem e o Amanha. Por isso e que devemos nos concentrar neste momento que e tão bom e tão bonito que alguns o chamam de Presente. Ai so dar para sentir uma grande leveza que se transforma em alegria, que a gente precisa compartilhar... Não da para ficar guardando nada. Nem de bom, nem de ruim! Ai a gente começa a viver em comunidade, mesmo que materialmente falando, a gente não esteja vivendo com alguém.
Tem uma chinesa que gosta de trabalhar no mesmo computador que eu, aqui na biblioteca. E por causa da posição dele. A gente fica em um espaço mais reservado, mas silencioso. No inicio, a expressão facial dela estava muito sofrida. Percebia, apesar de estar em outro computador próximo, que ela ficava horas sem conseguir produzir textos. Olhando para a tela em branco, cansada, ansiosa. Um dia ela chegou de cabelo cortado. Estava mais bonita. Começou a se vestir melhor. A me cumprimentar quando chegava e eu já estava no “nosso” computador. Percebi que nossas auras começaram a entrar em sintonia. Agora quem chega primeiro pega o computador; quando a outra chega e a gente já terminou os textos, libera o computador para a outra, ao invés, de ficar “segurando” a maquina. Mas antes de a gente sair, avisa para a outra para que outros não ocupem o “nosso canto”. Ela faz sociologia e `as vezes tem necessidade de discutir alguns pontos e me pede ajuda. Ai conversamos um pouco, tento ajudar como posso e reforçamos o sentido de cooperação mutua. Quando tenho dificuldades com o sistema daqui também peco ajuda para ela e vamos caminhando de “mãos dadas” com quem estiver ao nosso lado...
Ah, ia me esquecendo. Quando o Len estava la em casa, ele parou, olhou em volta e disse o seguinte:
- Não sei o que você faz aqui, mas isso parece um monastério...
Ele não notou nada, mas eu fiquei profundamente sensibilizada. Há alguns anos atrás eu fazia parte do Monastério la na Figueira. Forcas estranhas, transformaram questões banais de relacionamento entre seres humanos em grandes muralhas que me separaram daquela tarefa. Abandonei aquele trabalho, mas ELE NÃO ME ABANDONOU. Sem saber, sem querer, o Len reavivou o sentido de participação naquele grupo e, apesar de fisicamente não estar presente `as reuniões, desde ontem estou me sentindo incluída no Trabalho. Talvez eu nunca tenha saído... Se for para o bom andamento do Plano, gostaria de retornar. Já estou pronta de novo e as feridas já estão curadas. Desejo LUZ para todos os que participam desse trabalho e me sinto profundamente unida a todos eles, mesmo que nunca mais participe materialmente das reuniões. Não tenho que perdoar nada a ninguém porque todos os acontecimentos, todas as decisões são provisórias e se restringem a momentos, que vistos `a distancia, retornam `as suas habituais dimensões, ou seja, NADA.
Uma vez Jose me enviou um cartão que dizia:
- “ Você esta acompanhada e assistida. E so prosseguir em suas intenções porque tudo passa.”
Achei que ele estava simplificando demais as coisas, porque não queria perder tempo comigo! Agora começo a entender porque tive de atravessar o oceano e vir para um pais tão distante e ficar longe de vocês, meus amores. Ai em Arcos, recolhida na minha torre de cristal, jamais poderia ter os impulsos que estou recebendo aqui. Todos os dias e como se estivesse acordado dentro da Figueira. E me preparo para uma seqüência de eventos que vão colaborar para o meu desenvolvimento interior. A reclusão, a solidão que tinha me imposto ai, so me conduziu a estados depressivos. Aqui eu não tenho como me esconder. E como se estivesse irremediavelmente exposta. E para sobreviver tenho que relacionar com as pessoas, tenho que demonstrar apreciação ou desgosto, tenho que pedir ajuda; exponho-me a situações conflitivas, e tenho que recuperar o clima de Paz. Meu relacionamento com o Len e prova disso. Ele me magoou muito com algumas atitudes que tomou algum tempo atrás. Para variar, vocês conhecem Mamãe, não falei nada, agi como se nada tivesse acontecido, mas aquela coisa ficou crescendo dentro de mim. Ai o Julio me chamou a atenção. Comentou sobre esse vicio de cultivar remorsos e disse que um dia eu ia acabar rindo do que tinha acontecido. Esse dia chegou, meus filhinhos! Olhando para o Len la em casa, tomando café, falando sobre a sua vida, percebi um ser tão frágil, precisando de apoio, de compreensão. Ele ouve todo mundo, mas parece que ninguém para para ouvi-lo, para perguntar se ele esta sofrendo, se ele esta bem. Ai me lembrei daquele livro “Transformações na Consciência” que fala sobre o Budismo. No final, o autor, enfatiza o fato de que todos somos animais sociais e que ninguém nasceu para viver sozinho. Que cada um precisa de encontrar o seu grupo, aqueles que pensam e sentem como a gente para que a PARTILHA possa acontecer! E na PARTILHA que a COMUNHAO se realiza! Toronto esta me dando a oportunidade de entender a importância da vida em comunidade. Muita gente me pergunta o significado do meu nome Myosha, acho que agora estou começando a entender: so se caminha para o ALTO, quando se caminha em direção ao Outro. Porque e no coração do Outro que vamos encontrar o DIVINO!
Pois e! A tarefa dessa semana, vai ser viver intensamente o ETENO PRESENTE! Não vamos nos ocupar do Passado, porque não podemos modifica-lo. Não vamos nos preocupar com o Futuro, pois não sabemos se estaremos vivos daqui a duas horas. Então vamos nos concentrar no Presente e aproveitarmos profundamente o privilegio de viver essa experiência!
EM PLENA UNIAO & PAZ, LUZES a todos: `a Phoenix, ao Tuakinho, ao Mayazinho, `a Alphinha, ao Veguinha, e ao Venusinho.
Agradeçam sempre ao tio Edimar, `a Luciene, `a tia Gislene, `a tia Maria Lucia, `a Kellinha e ao tio Zé Neca.
Que todos tenham uma semana abençoada pelas Hierarquias!
Mamãe
Toronto, 15 de dezembro de 2006.

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