Saturday, March 31, 2007

Agora estou bem, graças a Deus, mas hoje pela manha estive mal...

Meus amados filhos!


Como vão vocês? Como passaram a semana? Espero que estejam bem. Penso em vocês todas as noites quando vou dormir e o meu primeiro pensamento quando acordo e dedicado a vocês! Espero que a Phoenix esteja cada dia melhor!


São sete horas da noite aqui em Toronto. Apesar de hoje não termos tido um dia ensolarado, ainda há claridade e a temperatura esta agradável: 10 graus positivos. Todo mundo esta passeando com os cachorrinhos lá na rua, a esta hora. Da janela da minha sala fico vendo os cãezinhos passando, gente andando de skate e de patins.


Agora estou bem, graças a Deus, mas hoje pela manha estive mal. Foi como se toda a energia estivesse saindo do meu corpo, taquicardia, diarréia, enjôo e um desanimo muito grande. Talvez tenha sido a tensão da minha primeira aula aqui para o meu grupo. Ou talvez seja o cansaço da semana mesmo. Tenho estudado demais. Hoje depois de tomar café, achei que ia vomitar. Então corri para a cama e deitei. Minha aula era `as 4 da tarde. Não dormi, mas também não tinha animo de levantar. Só saia da cama para ir ao banheiro. Não consegui estudar.


Tenho tomado minhas vitaminas, mas obviamente o meu ritmo alimentar esta bastante alterado pelo fato de não ter tempo de fazer as coisas para mim. Tudo vai dar certo! Já estou quase terminando as minhas leituras, mas ainda falta a publicação mais importante: a tese de doutorado do autor que estou pesquisando! Tudo vai dar certo! Esse e o meu mantra.


Agora depois da aula, estou mais tranqüila. O grupo foi para um bar comemorar a aula, pois organizei uma atividade bem movimentada e comprei Guaraná para a gente tomar no final da tarefa; eles não conheciam a bebida e esse meu jeito e muito diferente para eles. Com muito custo, eu consegui escapar deles para escrever minha cartinha para vocês. Estava com muitas saudades.


Quanto ao mal estar, acho que o que pesa mesmo e a solidão. Não ter com quem dividir. Não ter para quem contar as minhas aventuras, como a gente fazia ai. Converso muito com meu cachorrinho de pelúcia, o Leozinho, com a Matilde, minha plantinha, e com o Caio, filhotinho dela. Eles são muito legais e sempre perguntam sobre vocês. Geralmente aviso a que horas vou voltar para casa, mas eles já não acreditam mais em mim, pois não cumpro meus horários. Ai quando eu chego em casa, todo mundo esta emburrado. Mas depois a gente faz as pazes. Afinal somos companheiros de jornada.


O Leozinho vai comigo para o Brasil para morar com a gente. Mas a Matilde vai ter que ficar. Ela esta em um vaso muito grande e eu não sei transplantar plantinhas! Vou arrumar uma família bem amorosa para ela. Quando ela veio morar comigo achei que ela ia morrer. Achei que ela não tinha se adaptado a mim ou que não estava gostando da nova casa, pelo fato de ficar muito tempo sozinha. Depois fiquei sabendo que, em geral, as plantas perdem quase todas as folhas durante o inverno. Mas fiquei com muito medo de ela me abandonar. Ela foi morar comigo em novembro, pouco antes do inicio do inverno.


Ai depois do Natal, no inicio de janeiro, ganhei o Leozinho. Ai quando eu saia para a universidade, ficava mais tranqüila, pois sabia que Matilde não estava sozinha. Um belo dia, o Leozinho me perguntou o que era aquela coisinha verde que estava brotando no meio da folhagem tão escassa. Percebi que era um brotinho e comemoramos com muita alegria a chegada do Caio, o filhotinho da Matilde. Apesar da felicidade fiquei curiosa para saber o que teria causado o nascimento de um serzinho tão delicado em pleno inverno. Ai me lembrei que tinha começado a abrir as cortinas quando saia, permitindo a entrada da luz do sol. Ou seja, ate as plantas, os vegetais precisam da LUZ do Sol para viver e dar frutos.


Isso me ajudou a compreender a razão da minha tristeza naquele período. No inverno aqui, os períodos de luz são bastante reduzidos. Alem disso, quando acontecem, o que os canadenses chamam de sol, e o que para nos brasileiros entendemos como um dia bastante nublado, aqueles dias cinzentos, sem brilho, sem luz. A saudade do sol do Brasil, a necessidade daquele calor na pele foi algo bastante difícil de suportar. Graças a Deus, a chegada da primavera, trouxe consigo o retorno da Luz do sol, o céu azul e a beleza do canto dos pássaros. Pode parecer mentira, mas acordo com o canto dos passarinhos. Vocês sabiam que há aves que, nesta época, vem para cá em busca de temperaturas mais amenas, aves que deixam a nossa Floresta Amazônica por causa do excesso de calor e umidade. Entretanto, não acredito que elas mudem só por causa disso.


Nesse experiência aqui no Canadá, tenho prestado muita atenção nos pássaros e animais, em geral. Na verdade, tenho notado que eles se dedicam exclusivamente ao cumprimento de um PLANO MAIOR para este Planeta. Como o comprometimento deles e total e irrestrito, eles não perdem as oportunidades de realizar missões para desfazer as ações humanas desequilibradas. Alem de buscar temperaturas mais suaves, tenho certeza que eles trazem, em suas asas, sementes de Alegria, Luz, Paz, Acolhimento e Compaixão que são tão comuns nos paises que não são considerados desenvolvidos.


Contudo, são essas áreas que guardam as maiores reservas de cura para o Planeta e para seus habitantes, cura física, emocional e mental. São essas as “ilhas de salvação” da humanidade. Enquanto a nossa riqueza e espiritual, a riqueza deles e material! O contato com esses centros de cura do Planeta já esta me fazendo falta. Por isso, acredito que esses momentos de baixa de energia em meus corpos, reflitam essa necessidade. Ainda bem que já estamos na contagem regressiva.


De qualquer maneira, preciso entender que se me foi permitido um período aqui e porque, assim como os pássaros migratórios, estou em “missão” de cura. Então, cada palavra, cada contato, cada ação adquire uma dimensão cósmica e assim resgata essa “saudade” do LAR. Afinal, nos missionários não temos lar, casa: temos apenas um lugar de pouso, mas não um domicilio...(Acho que já ouvi isso antes!...)


Talvez seja por isso que eles tenham ficado tão felizes com a aula de hoje. Do jeito deles, percebi a comoção, a emoção escondida por trás dos sorrisos tímidos. Eles não conseguem abraçar, mas batem palmas quando querem agradecer. Eles não conseguem dar beijinhos, mas fazem questão de se despedir com apertos de mão.


E importante entender que estamos em uma cultura muito diferente da nossa, que tem valores e formas de expressão e de afetividade que são muito distantes dos nossos, mas que constituem a maneira deles de entenderem o mundo e a vida. Então para sobreviver, alias, para ser feliz e preciso ser muito flexível e perceber a relatividade das coisas. Ou seja, tudo depende do contexto do ambiente em que os acontecimentos ocorrem. Exemplo: conhecer uma pessoa e dar beijinhos aqui significa, no mínimo, invasão de privacidade. Outro exemplo: um medico que toca a paciente sem luvas dentro do consultório, aqui no Canadá, pode ser processado por assedio sexual. Parece esquisito, mas essas são apenas manifestações de diferenças culturais.


Por isso, e que faço questão de escrever as cartinhas para vocês todas as sextas-feiras! Esse e o meu momento de terapia, de lavar a alma, de falar sem medo de ser mal entendida, porque estou falando para “pessoas” que me entendem e me aceitam como eu sou, apesar de saberem de todos os meus muitos defeitos. Alem disso, esta e a hora em que avalio a minha semana e que, em função disso, fico em paz comigo mesma, pois estou absolutamente relaxada.


Quando me preocupo em escrever a cartinha para vocês e porque preciso que vocês acompanhem a evolução da minha estada aqui. Não são vocês que precisam das minhas cartas. Sou eu que preciso de que vocês acompanhem a minha trajetória, pois somos companheiros de caminhada, ainda que estejamos temporariamente separados em termos físicos. Apesar da distancia geográfica, mais que nunca estamos unidos pelo coração. E eu sei que vocês sabem e acreditam nisso, muito mais que os humanos! Mas a Mamãe já sabe que tudo e relativo, não e mesmo? Infelizmente, a maior parte dos humanos tem a sensibilidade atrofiada, diferentemente dos animais e das crianças. Só assim da para a gente entender as guerras que os chefes das grandes potencias mundiais conseguem “construir” em nome de algo que eles chamam de justiça.


Falem com a Luciene, com o tio Edimar, com a Tia Maria Lucia, com a tia Gislene e com o tio Zeneca que a Mamãe lhes agradece do fundo da alma. Que só o Pai Eterno há de lhes repor toda a tranqüilidade que eles conseguem dar `a Mamãe!


Beijos nos coração de cada um de vocês: Mayazinho, Phoenix, Tuak, Alpha, Vega e Vênus!


Em UNIAO, FORTALEZA, ALEGRIA E GRATIDAO ETERNA!



Mamãe

Toronto, 30 de março de 2007.

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